9.4.10

primavera

"Ainda tens o cheiro a Primavera. Gosto do teu cheiro. Cheiras a flores. Sabes, as flores deixam-me feliz. Eu gosto de receber flores. Elas são bonitas, delicadas, subtis, mas temos de ter cuidado com os picos. Agora que penso nisso, tu és uma flor. Uma rosa, talvez. Acho que já secaste à muito tempo mas ainda assim, irás sempre poder sentir o calor do meu toque para te lembrar que ainda existes. Tu és a minha flor."

- Gosto tanto da Primavera. Não me perguntes porquê, simplesmente gosto. É a época alta para o amor. É quando tudo renasce. As pessoas voltam a sorrir. O calor começa a chegar... Eu gosto da Primavera, tu não?

- Não. Eu não gosto da primavera. Eu gosto do Inverno.

- Sim, eu também gosto do Inverno, ainda assim, prefiro a Primavera. Já reparaste que o nosso amor tem sido como as estações do ano?

- Pois, deves ter razão.

- Nós começámos com o Inverno. Tu gostas do Inverno. As árvores estão despidas, está frio lá fora. A neve cai em Nova Iorque. Temos de vestir muita roupa para nos aquecermos e tomar um chocolate quente. Sabes que tipo de chocolate quente gosto mais? Chocolate quente com caramelo e chantilly. Gosto muito de chocolate quente. Quando nos conhecemos, estava a chover. Ainda te lembras?

- Sim, lembro. Estavas com aquela camisola azul-turquesa e um cachecol preto.

- E tu estavas com uma camisa aos quadrados. Estava a chover muito e estava frio, eu tremia por todos os lados. Lembraste? O teu sorriso aqueceu-me de imediato. Não sei porquê mas captaste a minha atenção logo desde o inicio. Não te sei explicar porquê tal como não te sei explicar porque gosto da Primavera. E os nossos sentimentos foram crescendo, como as folhas das árvores na Primavera. Na primavera tudo é novo. Ainda nos estávamos a conhecer e a fermentar o nosso amor. E o Verão? Recordaste do nosso Verão?

- Sim. Lembro-me do Verão. No Verão está calor e tu gostas de ir à praia.

- Pois gosto. Gosto muito do Verão. Não tanto como da Primavera, mas gosto do Verão. Talvez goste mais do Verão do que do Inverno. Sim, sem dúvida alguma, prefiro o Verão. No Verão, tal como te recordas, faz calor. Muito. Existe fogo, paixão. Existe suor e humidade. É tempo de praia, de paixões inesperadas. Nós estávamos, sem dúvida apaixonados. Paixão. Ainda te lembras de o sentir?

- Já lá vai algum tempo, mas sim, ainda me recordo do que é a paixão.

- Ah! Paixão. Pois é, a paixão é como uma chama... um dia, sem ninguém reparar, sem ninguém perceber, o vento chega e apaga-a. Até chegarmos ao Outono. O Outono é a estação do ano que menos gosto. É monótona. Caiem as folhas, as flores morrem e tudo fica seco à espera do Inverno que cobre as ruas com água, frio e neve. Nós voltámos ao Inverno. Às ruas a preto e branco. Como é que chegámos aqui? Porque é que deixámos que a nossa chama se apagasse? Não tens pena?

- Tenho. Sinto muito. Desculpa-me, eu não te mereço, não devia ter deixado acabar o nosso Verão. Desculpa, a culpa é minha.

- Shh. Não digas nada. Eu sei. Eu sei que lamentas. Eu também lamento. Posso encostar-me a ti?

- Podes.

- Ainda tens o cheiro a Primavera. Gosto do teu cheiro. Cheiras a flores. Sabes, as flores deixam-me feliz. Eu gosto de receber flores. Elas são bonitas, delicadas, subtis, mas temos de ter cuidado com os picos. Agora que penso nisso, tu és uma flor. Uma rosa, talvez. Acho que já secaste há muito tempo mas ainda assim, irás sempre poder sentir o calor do meu toque para te lembrar que ainda existes. Tu és a minha flor. Mas agora já é tarde. Devia voltar para casa.

- Fica. Não vás. Por favor.

- Meu amor, está na hora de dizer adeus. Eu volto amanhã, prometo.

- Desculpa-me. Eu sei que deixei que o nosso Verão se transformasse em Inverno, mas se me deres uma oportunidade, eu prometo tornar o nosso Inverno em Primavera. Tenho saudades da Primavera.

- Eu sei que sim, meu querido, eu sei. Mas tu não gostas da Primavera, ou do Verão. Nunca gostaste. O Inverno já secou todas as tuas pétalas, e tu não tens nada mais para dar. Eu sei que me amas, não como amaste, mas amas-me. Eu sei disso, por isso é que volto aqui, todos os dias, para te dizer que também te amo. Apesar de não dizeres, tu amas-me tal como eu te amo a ti. Podes sentir o calor da minha mão ou dos meus lábios nas tuas pétalas sempre que precisares. As tuas pétalas estão secas mas tu continuas vivo e ainda me amas.

- Sim. Amo. Não queres voltar à Primavera? És capaz de viver para sempre com esta flor seca presa no Inverno?

- Por ti, viveria mil anos no Inverno. Sim, eu gosto da Primavera, gostava de voltar a senti-la como sentia antes. Mas já passou muito tempo, agora contento-me com um chocolate quente com caramelo e chantilly, desde que estejas a meu lado.

- Obrigado.

1 comentário:

Ana Barata disse...

:')
Falas de sentimentos sentidos, sofridos mas que perduram. This gives me strenght! Thanks for this words cherry ^^

kisses*