Pego no telemóvel e olho para as horas. No ecrã marcam as 08h32. Continuo, ritmicamente a bater com as unhas na minha mesa...
- Melissa! Pára! Relaxa, ele vai demorar... ainda é cedo! - disse-me a minha colega de trabalho favorita - a Margarida. A minha favorita porque não se mete na minha vida, porque é simpática e sabe quando deve intervir. A Margarida era capaz de dar uma boa amiga não fosse o seu secreto amor por ti.
Entro na minha página do Facebook numa tentativa, falhada, de me distrair. Abro a minha aplicação predilecta - Frases Nicola - Hoje é o dia e vejo, ao acaso, qual a frase que me irá calhar... Espero algum tempo, impacientemente, face à lentidão em que se encontra o meu computador portátil branco. Quando, finalmente, a pagina abriu li a frase. Um ligeiro sorriso rasgou o meu rosto "Um dia assumimos o que sentimos um pelo outro". Sorri mais uma vez, pelo prazer de sorrir e pelo facto de tal afirmação ser completamente absurda e ridícula. Nunca, jamais irias assumir o que sentes por mim. Eu sei que não, e eu também não irei assumir nada. Não irei assumir a nada nem ninguém para além de mim e dos meus pensamentos. Repito os mesmos passos para ler uma segunda frase. "Um dia vais arrepender-te por não teres lutado por mim" - esta seria definitivamente verdade. Tu nunca olhaste uma segunda vez para mim, nem uma. Mas um dia, eu sei, irás olhar e vais ver que eu sou mais bonita do que julgavas e que sou muito mais interessante. Abro mais aplicações e quizzes no sitio da internet mas sem sucesso. Fartei-me da quantidade de barbaridades escritas e da lentidão a que se movem as páginas no ecrã. Decido então dedicar-me à leitura. Pego num dos livros que tenho na minha secretária e começo a lê-lo... perco-me nas linhas e tenho de reler a primeira frase. Li vezes e vezes sem conta as mesmas palavras sem as memorizar. Fechei o livro e voltei a olhar para o meu blackberry, 08h58 marca o mesmo. Decidi enviar uma mensagem à Jess já que tinha combinado ir almoçar com ela - "Hey Jé! Como vais? O almoço mantém-se de pé? Estou desejosa que me contes as novidades todas sobre o João. Beijo grande, Mel." escrevi com um falso entusiasmo. Na verdade não queria nada que tal almoço se realizasse mas talvez me fizesse bem. A Jé sempre foi uma boa amiga, simpática e divertida... óptima para este tipo de ocasiões. Olho em volta, reparo no vestido de cor salmão da Adelaide, vejo o António a arrumar as pastas e colocar os últimos catálogos em ordem.
- Mar...?! - Chamei baixinho - Achas que ele vai aparecer hoje?
- Melissa tu sabes que sim, ele vem sempre! Mas ainda é cedo... Porque não ligas à Joana, ela ainda não chegou. - Disse com o seu típico tom de voz calmo e suave e com o seu sorriso a rasgar-lhe as faces. A Margarida sempre teve um sorriso muito bonito e fazia aquelas covas características nas bochechas. O seu cabelo preto e volumoso era tão brilhante que dava inveja só de olhar... Era natural que ele nunca reparasse em mim, ela é tão bonita... - Mel, ouve, ele vai aparecer e é impossível que ele não te fale hoje. Estás tão bonita! - E o seu sorriso abriu mais como uma mãe orgulhosa. A Margarida é que escolheu a minha roupa visto que estava com grandes dificuldades em faze-lo. Trazia uma mini-saia preta e justa (demasiado curta para o meu gosto) e uma camisa vermelha ligeiramente decotada. No meu cabelo estava uma flor parecida a um malmequer igualmente vermelho.
Peguei no telemóvel e liguei à Joana.
- Bom dia Joana!
- Bom dia Mel. Está tudo bem?
- Está tudo óptimo só queria saber por onde andas, como ainda não chegaste...
- Estou mesmo à porta, falamo-nos em trinta segundos está bem?
- Até...- E a chamada caíu. No mesmo instante entra a Joana, a rapariga mais bonita do sítio. Cabelo castanho claro liso, até meio das costas. Uma grande mala cinzenta segura no seu antebraço era quase do seu tamanho. Com um vestido cinzento e uma encharpe creme que condizia com os sapatos, Joana vinha (como sempre) num andar acelerado.
- Bom dia. Bom dia. Bom dia, minha gente. Como estão todos? Bem? Óptimo. - A Joana sempre teve o hábito terrível de responder às próprias questões. Já ninguém ligava. Na verdade sempre que a Joana chegava toda a gente desligava os ouvidos face às suas palavras. Ela sempre foi simpática e atenciosa mas fala demasiado e por vezes só causa poluição sonora. Ri-me face a tal pensamento. Que cruel... No entanto, não deixava de ser verdade.- Mel?! Estás a ouvir? Ainda bem! Como estava a dizer, quando vi aquela mala fiquei logo apaixonada! Tinha brilhantes e depois uma flor, estás a imaginar? Era linda, linda, linda. - Sorri e fui acenando com a cabeça (sem parar de olhar para a porta).
Eram 9h17 certas quanto a grande porta se abre. Parei de ouvir tudo o que me rodeava. Levantei-me ligeiramente da cadeira... O teu cabelo em perfeito desalinho mantinha-se em pé como habitual e o teu brilho no olhar mantinha-se igual. Não sei se foi de mim mas parecia que andavas em câmara lenta. Perguntava-me se me irias falar mas percebi que era normal que não o fizesses por isso voltei a sentar-me na minha cadeira de cabedal preta e mergulhei nas páginas do meu livro.
- Bom dia Melissa. Tudo bem? - Oiço e o meu coração palpita de uma forma que não conseguia controlar. Respirei e levantei a cabeça. Sorri.
- Bom dia Gonçalo. Está tudo óptimo e contigo? - Perguntei tentando mostrar-me indiferente ao facto de me teres falado.
- Está tudo bem, afinal de contas - porque não haveria de estar? - Sorriste com o meu sorriso favorito - Estás bonita hoje. Fizeste alguma coisa ao cabelo?
Num gesto instintivo mexi numa das madeixas de cabelo e num sorriso tímido respondi.
- Não, estou igual ou pelo menos sinto-me igual.
- Não sei o que fizeste mas continua assim, estás bonita hoje. Desculpa, mais bonita que o habitual porque bonita tu estás sempre. Devias sorrir mais vezes, tens um lindo sorriso. - Sem intenção sorri face a tal comentário. Nem acreditava no que estava a ouvir. Só pensava "belisquem-me. Só posso estar a dormir. Acorda Melissa, acorda!". - Ainda aqui estás? - Perguntaste e quando dei por mim estava com a cara apoiada na minha mão direita a olhar para os teus lindos olhos.
- Desculpa, estava a pensar em.. nas... que... tenho de...
- Tem a continuação de um bom dia e tenta manter-te acordada, está bem? - Piscaste o olho. - Amanhã queres ir tomar o pequeno almoço comigo? - Devo ter demorado tanto tempo acreditar que continuaste sem que pudesse dar a minha resposta.- Bem, se entretanto decidires ir manda-me uma mensagem ou liga-me, ou simplesmente aparece. Às 8h45 no Starbucks pode ser? Tenho de ir, até... tu quereres.
...
2 comentários:
Como sempre, as melhores histórias que alguma vez li :')
Adoro ! muito mesmo
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