- Podemos conversar? - Ela pergunta com timidez.
- Podemos. - Responde ele com frieza.
Ignorando o seu tom, ela começa o seu discurso.
- Estou cansada, sabes? Estou triste e não sei se aguento isto. Nunca niguém morreu por amor mas eu sinto que a qualquer momento desapareço, de que posso cair agora no chão e não me levantar de novo - deu-se um breve silêncio onde ela tentou avaliar a expressão inexistente no rosto dele. Sem resposta continuou - Eu sei que errei, que a culpa foi minha mas perdoa-me.
Num gesto tímido ela segura a mão dele sob a sua num toque tão leve que ele mal conseguia sentir. Ambos olharam para as mãos sobrepostas. Ele não rejeitou o gesto dela pelo que ela continuou...
- Eu nunca te esqueci. Tu ainda moras dentro do meu coração, corres nas minhas veias. - Os seus dedos subtilmente cruzaram-se com os dele - Podíamos ficar assim, para sempre. De mãos dadas, nem que fosse só a ouvir o silêncio. Deixarmos as lágrimas presas e não voltar a derrama-las, podíamos estar de mãos dadas para sempre. O que me dizes?
Delicadamente ele foi libertando a sua mão e com a outra mexia no cabelo. Os seus olhos não largavam o chão.
- Desculpa. Não posso fazer isso. Não que não goste de ti, porque gosto. Não que te queira ver sofrer, porque não quero. Não que não te queira para sempre comigo, porque quero. Mas porque é o melhor para os dois. Não nos devemos apaixonar...
- Mas eu já estou apaixonada por ti - respondeu ela de forma tão rápida que as suas palavras quase que se atropelavam.
- Eu sei que sim mas tu vais perceber que ficas melhor sem mim. Eu não sou digno para ti, não sou o que precisas. Tu precisas de alguém bom, decente, alguém que seja interessante e tenha coisas em comum contigo. Eu não sou nada disso. Sabes, talvez o Manuel seja aquilo que procuras, ou talvez o Francisco.
Não feliz com a resposta dele, ela responde.
- Deixa-me ser eu a julgar isso. Eu quero-te a ti, não quero o Francisco ou o Manuel. Não os quero para nada. Quero-te de forma plena. O Francisco pode ser simpático e o Manuel pode ser bonito, mas tu és tu. Tu nunca deixarás de ser o meu primeiro amor.
- Não sabes do que falas - respondeu com certeza na voz - eu fui importante para ti. Sei que fui mas sei que errei, demasiado. Sei que te magoei e te humilhei. Sei que passaste noites a chorar por mim, que sempre quiseste que fosse feliz contigo mas tu sabes, no fundo sabes, que não seria feliz contigo. Tu sabes que não és a tal, tu sabes que eu fui importante mas deixei de o ser.
- Nunca te esqueci - repetiu as mesmas palavras que já dissera.
- Não me esqueceste nem vais esquecer, eu marquei-te como ainda nenhum outro tinha marcado, mas já não sentes o mesmo que sentias.
- Verdade - concordou contrariada.
- Tu gostas de mim mas não como gostaste, tu ainda me achas bonito mas não como achavas. Tu ainda pensas em mim mas não a toda a hora, constantemente. Ainda és capaz de perdoar os meus erros e aceitar-me mas não serás feliz.
- Como podes ter tanta certeza?
- "Duas vozes no coração". Eu sei do que falo, Pocahontas. Eu sei, tu não serás feliz comigo porque por muito que me ames ou que gostes de mim eu fiz o que fiz, e sabes que não me arrependo. Desculpa. - Disse num murmurio.
- Eu sei. Talvez tenhas razão. Não devia ter insistido.
Com a sua mão direita ele levanta o queixo dela levemente.
- Eu gostei de ti, sabias? Gostei mas não tive coragem para o admitir e por isso achei mais fácil mentir-me a mim mesmo. Agora sei que sim mas é tarde.
Uma lágrima escorreu pelo rosto dela por saber que ele estava certo mas por querer mais que tudo que ele estivesse errado. Ela queria, apesar de tudo, ama-lo com todas as forças. Queria ser dele e ele dela para todo o sempre. Queria que juntos podessem descobrir o mundo, sorrir e amar. Ela queria ser feliz com ele. Mas era tarde e agora cada um segue o seu caminho. Ele deu-lhe um leve beijo, levantou-se e caminhou até desaparecer.
Beijos com amor.
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