"amo-te"

Mas acho que a palavra "amo-te" é sobrevalorizada, quando a dizemos muitas vezes ela deixa de ser algo especial e passa a ser banalizada.

- Hoje ele disse que me amava e que queria casar comigo. Dá para acreditar?
- A sério? Ele disse que te amava e queria casar? Oh meu Deus! E tu? O que disseste?
- Não disse nada.
- Como não disseste nada, Em.?
- Não disse nada, mudei de assunto.
- Estás parva?
- Não. Ele disse que me amava e eu não vou dizer que o amo só por obrigação ou por algum tipo de regra de etiqueta que possa haver. Se o disser é porque tenho essa necessidade não em forma de resposta. E o casamento não está aberto a discussão, ele sabe o que eu penso disso.
- Mas não o amas? Não queres mesmo casar com ele? Quero dizer, vocês estão juntos há mais de um ano e tu nunca lhe dizes que o amas.
- Eu amo-o. Amo que chega ao ponto de doer quando ele está muito tempo longe. E eu digo que o amo, quando quero e sinto que devo relembra-lo disso. Mas acho que a palavra "amo-te" é sobrevalorizada, quando a dizemos muitas vezes ela deixa de ser algo especial e passa a ser banalizada. Chega ao ponto em que "amo-te" é tão banal como "sim". Eu quando digo que amo alguém é porque amo e porque quero que ele saiba e não é por estar a dize-lo constantemente que vai aumentar o seu significado. E o casamento é apenas um papel. Em que é que o casamento vai ajudar? Não vai alterar o que sentimos um pelo outro, só vai alterar o nosso estado civil no bilhete de identidade de forma permanente.
- Eu não te percebo.
- Não? Porque não?
- Eu digo ao João que o amo muitas vezes. Digo-o sempre que falamos ao telefone, digo quando me despeço, quando chego. Digo-o a toda a hora porque não quero que ele se esqueça disso. E gosto, gosto quando ele diz que me ama, gosto de me sentir amada. Ele ama-me e está sempre a dize-lo. Nós estamos sempre juntos e isso é o que faz com que nos amemos. Não percebo a tua maneira de pensar.
- Mas é por essas razões que eu não gosto de o dizer a toda a hora. Não é por dize-lo que o amo mais e se o estivesse sempre a dizer iria deixar de ser tão verdadeiro, tão especial e de tanta magnitude como é quando o faço. Ele sabe que o amo, não porque o digo porque palavras leva-as o vento, mas porque o demonstro. O meu olhar, as minhas atitudes, tudo isso é a prova do meu amor e não uma simples palavra que nos dias de hoje é trivializada. E eu sei que ele me ama, não porque ele o diz mas porque o consigo ver nos olhos dele. Ele não diz que me ama todos os dias, ele diz que me ama quando sente necessidade, tal como eu. Ele sabe que eu o amo tanto como sei que ele me ama a mim. Não precisamos de estar sempre juntos para nos amarmos mais ou menos até porque cada um de nós precisa do seu espaço, entendes?
- Sabes que ele se pode fartar e o podes perder, certo?
- Por não dizer que o amo? Não. Estás errada. Ele poderia fartar-se de mim se eu estivesse sempre a dizer que o amava e estivesse sempre com ele. Iria acabar por sufoca-lo e isso sim iria faze-lo fartar-se de mim. Eu gosto quando ele o diz porque sente. Não gosto que ele diga que me ama só porque sim. É assim que penso.
- Talvez um dia te arrependas de não o dizer tantas vezes.
- Talvez um dia percebas o que te estou a tentar dizer, Joana.

Dois meses depois a Joana e o namorado terminaram o namoro. Ele disse-lhe que estava farto dela e que já não aguentava mais pois ela o estava a sufocar. A Em e o namorado continuaram felizes, apesar de ela raramente dizer que o amava, e estavam cada vez mais apaixonados. Um dia, a Joana percebeu que não é dizer que se ama alguém que faz com que essa pessoa nos ame. O que faz com que sejamos amados é que amemos de volta e respeitemos o espaço da outra pessoa, as suas vontades e pensamentos. O importante é amar, não dizer que o sentimos.
Beijos com amor.