
Querida C.,
Foi bom saber que estás bem. Lamento ter vindo embora sem me despedir, mas tu, mais que ninguém devias saber que nestas coisas temos de ser breves, rápidos ou outro fica com o nosso lugar.
Manda cumprimentos meus ao Osmar, pena ele ter caído nessa melancolia, ele era um rapaz tão porreiro. A Ofélia deixou-o? Já sabia que a relação deles não ia durar muito, afinal de contas ela brincava muito com a sexualidade dele, e acho que ele nunca deve ter gostado assim tanto dela, caso contrário teria lutado.
Eu também tenho saudades tuas, não pensas que foi fácil deixar-te. Eras o meu bem mais preciso, mas a vida é feita de escolhas e eu tive de fazer a minha. Esperavas mesmo que ficasse para sempre a contentar-me com pequenos espectáculos de cachet reduzido? Conheces-me melhor que isso.
Nunca pensei que me amasses tanto assim. Tu és fria, snob e por vezes cruel; sempre o foste. Eu apaixonei-me por ti, é verdade, apaixonei-me mas tu és demasiado confusa. Nunca pensei dizer isto mas, eu também te amava. Talvez não como tu me amaste, mas eu amava-te. Quando olhava para os teus olhos sabes o que via? Tristeza, ambição, desprezo, arrogância mas no fundo um bom coração. Mas sim, eu sabia que gostavas de mim. Gostavas de mim mais do que das outras pessoas, mas nunca pensei que me amasses tanto.
Quando te deixei, à exactamente dois anos, cinco meses e 10 dias pensei que tu ias esquecer-me mais depressa do que alguma vez eu te esqueceria. Tu sempre foste a mais forte na nossa relação. Pensei que dentro de um mês ou dois arranjasses alguém e fosses feliz. Pensei que ias continuar a lutar pelo teu sonho e te encontrasses comigo aqui no Starbucks de Nova Iorque. Digo-te, isto é melhor do que alguma vez algum de nós possa ter imaginado. Honestamente, achava que irias chegar onde cheguei antes de mim. Mas sabes de quem é a culpa? Tua. Eu não te devo nada, nunca devi tal como tu nunca me deveste nada. Talvez devesses ter sido mais egoísta pois tu és uma verdadeira altruísta e o altruísmo e modéstia neste ramo é impensável.
Lamento pelo Osmar, nunca pensei que ele ficasse tão mal. A minha mãe sabe que estou bem, ela está bem.
E eu também te amei, mais do que alguma vez amei alguém. Nas minhas primeiras noites aqui em N.Y. só me conseguia lembrar de ti e desejei milhares de vezes que estivesses a meu lado, porque não lutaste por mim? Porque desististe do nosso amor? Tornei essa tarefa assim tão fácil? Mas os anos passaram, tu nunca ligaste de volta, nunca mandaste um e-mail, nada.
Lamento, mas acho que não tenho mais nada para dar. Já não me consigo recordar do som da tua voz, tenho pena pois sei que cantas tão bem e sei que tens uma voz bonita, foi pela tua voz que me apaixonei. Pelo teu talento, pela tua força, garra e vontade de vencer. Mas talvez tenha sido tudo fachada. Talvez não sejas tão forte assim, quem, no seu perfeito juízo, abdicaria de uma voz e de um talento inato?
Um dia, meu amor, talvez nos voltemos a encontrar. Talvez reencontremos o amor. Talvez um dia, possas partilhar comigo a beleza da cidade.
Sei que não tenho o direito de te pedir nada, mas, por favor, toma conta do Osmar. Não por mim, por ele.
Eu também te amei, muito. Nunca me esquecerei de ti, minha querida.
Liga-me um dia destes, o número está no verso da folha.
Um beijo,
O teu D.
1 comentário:
A Danielle Still que se cuide...
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